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Professora Helena: sonho ou perigo na educação?
Um olhar crítico sobre a relação professor-aluno na novela Carrossel.
Ei, professor(a), como está?
Na News desta semana decidi trazer um tema que há tempos está no meu bloco de ideias — afinal, fazer anotações é coisa de professor.
Assim como Manuel Carlos tem as suas Helenas, a novela Carrossel também teve a sua. E, mesmo que você não tenha assistido, sabe muito bem de quem estou falando. A professora mais amada pelos alunos da ficção foi interpretada por duas atrizes diferentes em seus 30 anos de existência.
No entanto, após mais de uma década da adaptação brasileira, algumas coisas ainda chamam a atenção no comportamento da educadora. Nesta edição, vamos analisar o que na conduta da protagonista pode servir de inspiração – e o que merece um olhar mais crítico.
E quem melhor do que nós, os professores, para fazer essa análise, não é mesmo?
Boa leitura!
Além da sala de aula: o impacto do comportamento da Professora Helena nos alunos
E o que podemos aprender com uma das personagens principais da novela

Pode parecer loucura propor uma avaliação sobre o comportamento de uma personagem de novela infantil. Contudo, a professora Helena de Carrossel já foi, inclusive, tema de TCC da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
O artigo de nome “Complexo de Helena” analisou de forma crítica as atitudes da educadora e chegou à conclusão de que se trata de uma postura prejudicial. Embora a dedicação e o afeto sejam pontos positivos, eles são excessivos, tornando-se problemáticos em muitos contextos.
Confesso que eu já pensava assim antes mesmo de saber da existência desse TCC. E claro, não percebi isso quando assisti à primeira versão, na minha infância. Foi apenas acompanhando meu filho de 7 anos na adaptação brasileira que enxerguei esse comportamento prejudicial.
Ao rever a postura da Professora Helena, notei o quanto sua conduta doce, afetuosa e sempre acolhedora cativava as crianças. No entanto, ao analisá-la pensando na ótica pedagógica, questionei se essa era a postura que deveríamos adotar como educadores.
A figura da professora que ama incondicionalmente seus alunos e se dedica a cada um de maneira quase materna pode parecer um ideal bonito, mas traz adversidades. O excesso de carinho faz com que, em muitos momentos, eles a vejam como amiga e confundam os papéis dentro da sala de aula.
Logo, quando a relação se baseia apenas no afeto, dispensando a autoridade pedagógica, há o risco de as crianças não respeitarem os limites. Assim, passam a nos enxergar como um confidente ou até mesmo como alguém incapaz de estabelecer regras e tomar decisões difíceis.
Podemos notar isso no capítulo em que aluna Valéria vira a cara para Helena após ela pedir demissão da escola. E em outros tantos episódios em que as crianças cobram explicações da educadora e pede o auxílio dela para resolver questões até fora do colégio.
Isso não significa que devemos ser frios ou distantes. Pelo contrário, o vínculo com os alunos é fundamental para um ambiente de aprendizagem saudável. A questão é encontrar um equilíbrio entre empatia e autoridade, garantindo que o respeito e o aprendizado andem lado a lado.
Diferentemente da ficção, na realidade escolar, o professor precisa lidar com desafios que vão além da resolução de pequenos conflitos e gestos de carinho. Há momentos em que precisamos impor limites, tomar decisões impopulares e enfrentar dificuldades que exigem mais do que um olhar doce e palavras gentis.
Ao assistir Carrossel, fica claro que a Professora Helena representa um modelo de docente idealizado e romantizado. Mas será que essa idealização não gera uma pressão desnecessária sobre os professores, que se veem cobrados a assumir um papel que vai além do ensino?
Afinal, ser um bom educador não significa ser perfeito, mas sim ser capaz de equilibrar afeto e autoridade de forma consciente e profissional.
Proposta de intervenção

Se você se enxerga como uma professora Helena, saiba que não precisa se culpar, pois não fez nada errado. Contudo, é importante trabalhar a diferença entre ser professor e amigo com os seus alunos. Abaixo, você encontra uma proposta de intervenção.
Ela ajuda os alunos a refletir sobre os diferentes papéis que cada pessoa exerce em suas vidas.
Dinâmica: “Professor ou amigo?”
Objetivo: demonstrar de forma lúdica e reflexiva a diferença entre o papel do professor e o de um amigo.
Público-alvo: Educação Infantil e Ensino Fundamental I.
Duração: 30 a 40 minutos.
Como jogar:
Peça para os alunos formarem uma roda e faça perguntas como:
“O que um professor faz por vocês?”
“O que um amigo faz por vocês?”
“O professor pode ser um amigo?
“O amigo pode ser professor?”
Registre as respostas no quadro ou em um cartaz.
Na sequência prepare cartões com diferentes situações e pergunte aos alunos quem deve exercer aqueles papéis. Exemplo:
"Corrigir atividades e ensinar conteúdos."
"Brincar no recreio e te convidar para lanchar em casa."
"Dar bronca quando você fizer algo errado, mas sempre querer o seu bem."
"Guardar segredos e contar piadas com você."
"Ajudar você a entender uma matéria difícil e incentivá-lo a estudar."
"Te emprestar brinquedos e dividir o lanche no intervalo.”
Anote essas respostas também.
Discuta e reflita:
Ao fim da dinâmica, converse com os alunos sobre as perguntas feitas por você e as respostas fornecidas por eles. Explique que um professor pode ser carinhoso e cuidadoso, mas que sua principal função é focar no aprendizado.
Deixe claro que, ao contrário dos amigos, os professores precisam estabelecer regras, cobrar responsabilidades e corrigir sempre que necessário. Também é importante destacar que a relação professor-aluno deve ocorrer apenas no ambiente escolar.
Sugestões de livros para melhorar a postura em sala de aula
A novela Carrossel deixa bem claro que o 3° ano foi a primeira turma fixa da Professora Helena. Isso justifica a inexperiência da educadora que era muito mais coração do que razão. Se este for o seu caso, confira alguns livros para melhorar a postura em sala de aula.
O livro “Alegria para ensinar e transformar vidas” ensina o professor a transformar as aulas, tornando-as mais interessantes. Assim, mesmo sem assumir o papel de Professora Helena, é possível conquistar os alunos. Veja na Amazon
"A professora encantadora" é um livro infantil que narra a história da professora Maísa, que encantava os alunos com seu jeito único. Porém, ela não era considerada uma educadora que preparava os estudantes para o futuro. Veja na Amazon
Em “Pais brilhantes, professores fascinantes”, Augusto Cury traz reflexões para pais e professores compreenderem o seu papel na vida das crianças. O livro aborda a importância dos pais e dos professores em momentos diferentes da vida. Veja na Amazon
Por fim, o livro “Conversas com um jovem professor” traz experiências reais ocorridas em sala de aula para inspirar quem entrou agora na profissão. O autor deixa a teoria de lado e aborda a prática escolar. Veja na Amazon
Dicas de filmes para assistir sozinho ou com os alunos
Para finalizar, selecionei algumas sugestões de filmes para assistir sozinho ou com os alunos. Os três títulos abordam a importância da atenção aos detalhes que um professor deve ter.
Matilda - Disponível no Max, Apple TV e Prime Vídeo
Assim como na novela Carrossel, o filme “Matilda” mostra a relação entre professor e aluno e a importância de se atentar aos detalhes. Matilda, criança não vista em casa, é notada na escola. Veja o trailer aqui
Como estrelas na terra - Disponível no Google Play e YouTube
O filme “Como estrelas na terra” conta a história de um professor com visão sensível que conseguiu ajudar um aluno com dificuldades na aprendizagem. Devido ao seu lema de que “toda criança é especial”, ele ajudou o estudante a superar a dislexia. Veja o trailer aqui
O último vagão - Disponível na Netflix
Em “O último vagão”, uma professora leciona no trem para melhorar a vida de seus alunos. O filme retrata os diferentes métodos de educação e o relacionamento entre as crianças e a educadora. Veja o trailer
Finalizo a News por aqui e espero que você compreenda a importância de equilibrar a relação com os seus alunos. Lembre-se de compartilhar essas ideias com outros professores, expandindo o nosso círculo de conhecimento.
Boa aula e até a próxima semana!
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